Polêmica em Cabo Frio: obra em sítio arqueológico desperta protestos

Moradores do bairro Canto do Forte, em Cabo Frio, denunciaram a construção de um condomínio em uma área que abriga um sítio arqueológico registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A comunidade local teme que o projeto afete tanto o patrimônio histórico da região quanto o meio ambiente e as próprias residências.

A denúncia surgiu após uma reunião promovida pela empresa SPE Cabo Frio, responsável pelo empreendimento. Na terça-feira (26), a comunidade foi convocada a participar de um “Laboratório Vivo”, que, segundo os moradores, teve como pretexto recolher depoimentos dos residentes mais antigos sobre a história da localidade. Durante o evento, realizado com a presença de biólogos e arqueólogos, os moradores perceberam que a reunião, na verdade, servia para um “estudo de vizinhança” sem revelar o real propósito do projeto.

“A reunião foi um engano. Queriam nos fazer acreditar que era apenas para ouvir a história do lugar, mas na verdade estavam usando isso como justificativa para expandir o empreendimento”, relatou um morador, visivelmente indignado. “Quem nasceu e cresceu aqui vai perder tudo para o condomínio? É uma tristeza”, lamentou. Ele acrescentou que, quando questionaram sobre a possibilidade de desapropriação da comunidade, os representantes da empresa reagiram com nervosismo e se esquivaram da questão.

Os moradores também destacaram a ausência de representantes da empresa no encontro. A reunião foi conduzida apenas pelos profissionais contratados, e os moradores receberam um questionário online e um QR Code que direcionava para uma plataforma com informações sobre os achados arqueológicos da região.

A comunidade questionou a legitimidade da obra, afirmando que a empresa alegou ter obtido uma autorização após uma longa batalha judicial, mas não apresentou documentos que comprovassem isso. “Pedimos uma nova reunião, com a presença dos responsáveis pelo projeto, mas até agora não tivemos retorno”, disse um dos denunciantes.

Apesar da resistência da população local, o lançamento do condomínio já está sendo anunciado por imobiliárias, que destacam a localização “pé na areia” na Praia do Forte. O projeto prevê a construção de 104 apartamentos, com áreas variando de 42,24 m² a 82 m². De acordo com uma das imobiliárias, o metro quadrado está avaliado em R$ 14.756,63, com apartamentos a partir de R$ 620 mil.

A reportagem do RC24h entrou em contato com a Prefeitura de Cabo Frio para comentar as preocupações da comunidade. Em resposta, o município informou que o processo de licenciamento da obra foi realizado conforme a legislação vigente, com a devida análise dos órgãos competentes. A prefeitura esclareceu ainda que o empreendimento está localizado em uma área considerada “Zona Especial 1” e que o Iphan aprovou a obra após a realização de um estudo de impacto sobre o patrimônio arqueológico. A prefeitura também destacou que o “Estudo de Vizinhança” foi elaborado pela empresa responsável pelo projeto, e que a administração municipal não tem ingerência sobre o conteúdo dessa análise.

Por fim, a Prefeitura reafirmou que o processo de aprovação e licenciamento das obras foi conduzido em conformidade com as normas urbanísticas, ambientais e de preservação do patrimônio histórico, e que a denúncia não aponta para irregularidades no procedimento.

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